domingo, 30 de outubro de 2016

MORTE INDETERMINADA

Quando perdemos alguém que amamos de forma abrupta, dentro de nós há uma mistura de sentimentos, entender como isso se deu se torna importante para que possamos seguir em frente com mais serenidade, Por vezes entretanto, a causa mortis consta como indeterminada o que traz ainda mais inquietação.

A declaração de óbito é um documento essencial para que possa ocorrer o sepultamento, pode ser expedida pelo médico que atendia o paciente durante sua patologia, em consultórios ou hospitais, pelo patologista, legista, pelo plantonista das emergências ou até mesmo pelo secretário de saúde.Os atestados de óbito contém uma via que é enviada ao serviço de Saúde Pública para que haja um maior entendimento das causas de morte e possíveis políticas de prevenção e tratamento, sejam elas naturais ou violentas.

Em casos onde os corpos são encontrados no domicílio, há uma investigação preliminar a procura de indícios de um crime, como vestígios de luta ou substâncias que poderiam ter causado o óbito. Quando não há indício de violência, procura-se na necrópsia alguma anormalidade que possa determinar qual foi essa causa, o que nem sempre é possível. Nas cidades que dispõe de Serviço de Verificação de Óbito, são especializados em causas de morte natural, ou seja, patologias, e são realizadas por médicos patologistas e não legistas. Nas cidades onde esse serviço não está disponível, um médico da rede pública ou o secretário municipal de saúde em pequenas localidades emite essa declaração de óbito como causa indeterminada, uma vez que não dispõe de meios para comprovar a verdadeira causa do óbito. 


Quando a morte natural, ou seja, como consequência das patologias existentes ou súbitas, ocorre no caminho em busca de socorro, ou logo após sua admissão no serviço de saúde, os médicos que ali estão não têm como diagnosticar a doença que o vitimou, então não é possível que seja colocada uma causa que mesmo a mais provável, não se tem confirmação.


Quando um paciente sente um mal estar como uma tontura, um ataque epilético ou até mesmo uma fraqueza, pode cair da própria altura o que geralmente resulta numa lesão, que pode ser um corte, uma escoriação ou hematoma localizado onde houve maior impacto ao tocar o solo, o que não significa que foi a causa do óbito. A presença de sangue saindo pelo nariz pode ser decorrente de pressão arterial elevada ou outras patologias. Nesses casos, não compete ao médico legista a realização da necrópsia. 


Alguns casos que são enviados ao Instituto Médico Legal chegam como morte suspeita, ou seja, não se sabe se foi morte natural ou violenta. Durante a necrópsia procura-se qualquer indício que justifique o óbito, contudo, algumas vezes nada é encontrado, configurando portanto causa indeterminada. Nesses casos nem mesmo é possível determinar se houve ou não um homicídio.

O CRIME DA MALA

O primeiro e famoso crime da mala registrado no Brasil, apesar de bem planejado foi descoberto. A idéia era despachar uma mala grande, de madeira por navio para a Europa e depois não retirá-la. Contudo devido ao cheiro foi descoberta antes que atravessassem o Atlântico. 
A partir de então, muitos utilizaram meios semelhantes para ocultação de cadáver, que não tem sido tão eficaz como se pensava. A ocultação de cadáver não é uma tarefa fácil, principalmente em virtude do forte cheiro que produz um corpo em decomposição e também pelo necrochorume (líquidos eliminados pelo corpo durante a decomposição). O tamanho também é um fator considerável. 
A utilização de malas é mais fácil explicada por facilitar a retirada do corpo do local do crime, despertando menos estranheza. A maioria das formas utilizadas para ocultação de cadáver se mostra ineficaz pela falta de conhecimento específico, como também na forma de execução. Essas tentativas conseguem no máximo retardar o encontro. Existem sim formas eficazes para esse propósito, como o do caso do goleiro Bruno, em que a menos que algum dos envolvidos revele, nunca o corpo será encontrado. Existem formas em que pode-se extinguir definitivamente os restos mortais e provas que possam levar ao autor, que definitivamente estão muito distantes do acondicionamento em mala e descarte em rios ou lagos.

OS RITOS FUNERÁRIOS

Os ritos funerários datam da pré-historia, o que vale dizer que a relação com morte e o luto nasceram com o homem. Vivenciar o luto então é parte de nossa constituição emocional e instintiva. Velar o corpo é ter a parte material da situação, que nossa mente por vezes faz parecer irreal. A vivência do luto dura em média de 6 meses a um ano, período considerado normal, mas a saudade e falta podem perdurar toda a vida. 

Quando, entretanto, se fala em ausênciadecorrente do desaparecimento, ocorre uma lacuna nesse processo, não existe a materialidade da morte, e resta a esperança da volta, por mais que seja improvável racionalmente. Não há a vivência do luto ou algo concreto para se apoiar, com o tempo aceita-se que houve morte, mas não há os ritos funerários, que são importantes aos familiares, não há respostas. O número de desaparecimentos é assustador, onde estão tantos? Vivos, mortos, alienados, fugidos? O certo é que carregam consigo parte da vida dos seus, alguns passam o resto da vida a sua procura muitas vezes, infrutífera.

O EFEITO ESPECTADOR

O efeito espectador ficou mais evidente nos últimos anos apesar de ser algo que ocorre já por muito tempo. Consiste em assistir a um fato onde diante de um fato em que uma atitude pode mudar o resultado da ação, contudo permanece a assistir e nada faz. Alguns casos de homicídio, onde mais de dez espectadores presenciaram o fato e nada fizeram são mais comuns que se pensa. Muitas vezes a ação pode ser simples como uma ligação para a ambulância ou para a polícia, mas mesmo assim nem isso acontece. Deve-se por pensar que outro já o fez ou mesmo medo de se envolver. Com a onda de vídeos e fotos por celulares isso fica mais evidente. Presenciei apenas um caso em que ações conjuntas e imediatas mudaram o desfecho de um caso de violência, agiram sem receios e ao final a pequena participação de cada um salvou uma vida. Mas hoje perde-se dia-a-dia o comprometimento com os mais próximos, que dirá com um desconhecido.

SUICÍDIO

Quando se tem notícia sobre um suicídio, ouvem-se as mais antagônicas opiniões populares, mas na verdade não há suicídio sem algum distúrbio mental ou emocional. A vida dos dias de hoje propicia o adoecimento de nossa mente, o estresse em alta assim como as fobias e ansiedade. No suicídio há um sofrimento incomensurável em que o indivíduo busca tão somente um alívio por tanta dor, decorrente em sua maioria de uma severa depressão, que é umas das mais terríveis patologias, pois, acomete também a alma, um desalento tão grande que nem o amor por familiares ou qualquer outro ponto de relevância parecem ter importância, é como a morte de uma essência em seus desejos e aspirações, como a vida colocada em suspenso onde só resta a dor e o desconforto. Por se tratar de uma patologia, não há como se rotular esses indivíduos de covardes, fracos, lembrando que o medo da morte é um elemento comum entre as pessoas, pelo medo da dor e do fim. Esses indivíduos, no entanto, sentem uma dor tão imensa que a dor física da morte é apenas um caminho para findar um sofrimento infinitamente maior, muitas vezes os suicidas escolhem como meio o mais doloroso e lento, talvez como auto-punição pelo ato cometido, como se esse sofrimento extra pudesse aplacar parte da culpa que sentem por tal atitude, principalmente pelos que amava.

O tratamento para depressão muito evoluiu, entretanto mesmo com tratamento alguns ainda cometem suicídio. Alguns atribuem esse estado ao desequilíbrio de substâncias endógenas, mas o fato é que em depressões graves é como se a pessoa que ali habitava deixasse de existir temporariamente, a ponto de não mais se reconhecer. Como então criticar quem sucumbe a essa terrível realidade de sofrimento? O que é preciso é descobrir as causas e prevenir, afinal, ninguém merece sofrer assim, a dor na alma é a mais cruel e intensa que pode existir. Assistir ao peso que tal situação tem nos familiares é também um fator que aumenta o desalento, pois não é algo que se escolhe ou se quer, todos querem tão somente a felicidade. Ninguém está imune à depressão, que pode surgir repentina e sorrateira a qualquer momento, por isso não há que se julgar moralmente esses indivíduos, mas sim tentar o possível para que se recuperem.